5h50 – 11h30 : FORÇA! (Jiayou!)

Terça-feira, 5h50

Eu sei que às 6h20 estarei esperando ao pé da escola e também sei que preciso ir se quiser evoluir. Ao mesmo tempo, quente e confortável na minha cama, essa determinação me parece quase ridícula. É aquele momento em que daríamos tudo para ficar mais algumas horas debaixo do edredom. Lá fora está frio, escuro e úmido. Digo a mim mesma que são nesses momentos que não se deve pensar, nem ouvir o corpo. Preciso pular da cama, vestir a calça e a camiseta, fingir que não sinto dor em nenhuma parte do corpo e sair para encontrar meus colegas. O dia começa!

6h30

É o início do treino, o mais exigente fisicamente e o que mais requer resistência. Tudo isso acontece antes do café da manhã. Sem dúvida, o que me mantém de pé nesse momento são os sorrisos dos meus colegas, com quem tenho prazer em compartilhar esse instante. É difícil, mas extremamente formador.

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Os sorrisos das crianças e também dos professores, nos quais encontro paciência e gentileza. É difícil de descrever e, claro, há também o lugar: o mosteiro taoista de Wudang, ao qual nunca nos acostumamos completamente.

Nesta manhã está chovendo, mas ainda assim decidimos correr e continuar com os exercícios de fortalecimento muscular. O primeiro treino termina com a prática de Qi Gong, que nos ensina a acalmar a frequência cardíaca e a regular a respiração.

7h30 – 8h30

Chegou o momento do café da manhã. Normalmente não como muito cedo, mas aqui sei que preciso me alimentar bem para conseguir manter o ritmo pelo resto do dia. As refeições são muito completas e não têm nada a ver com aquelas que encontramos na França. São salgadas e pouco diferentes do almoço ou do jantar. Às vezes sinto falta de doces, mas sei que, neste caso, meu corpo precisa de alimentos ricos em energia, legumes, cereais. Não como carne na França, o que não é problema algum aqui, já que a maioria dos pratos é vegetariana.
Sinto um cansaço bom e aproveito o restante do intervalo para tirar um cochilo antes de seguir para o segundo treino da manhã.

8h30 – 11h30

O treino com nosso professor começa. O templo está aberto nesse horário, então temos o privilégio de praticar nesse lugar magnífico. Em horários de maior movimento, não escapamos dos olhares curiosos dos visitantes e, às vezes, até de sessões de fotos! Crianças treinam ao nosso ladokung fu shaolin temple china taiji wudang , assim como jovens chinesas que competem em nível nacional. Existem diferenças de nível e a grande maioria das crianças de cerca de dez anos nos supera em praticamente tudo. Na verdade, isso nos motiva. Nosso professor, Wang Wenjie, faz de tudo para nos dar confiança e vontade de nos superarmos. Ele sabe ouvir e é muito paciente, muitas vezes precisa repetir várias vezes explicações de exercícios que, para ele, parecem de uma facilidade desconcertante. Seu ensino é benevolente. As poucas palavras de francês que ele domina, o pouco de chinês que eu aprendi e sua forma muito pedagógica de demonstrar os exercícios tornam a aula interessante e eficaz. Quando ele deseja explicar aspectos mais teóricos, Florian está presente para traduzir. A aula é dividida em três partes, cada uma interrompida por uma pausa de dez minutos. A primeira hora da manhã é geralmente dedicada ao aprendizado de uma arma. Escolhi a espada, enquanto os franceses que treinam comigo optaram pelo nunchaku. A última hora é dedicada à revisão dos taos que aprendemos. Repetimos os mesmos movimentos dezenas de vezes, sem deixar nada ao acaso. Nosso professor nos ensina disciplina e perseverança.

11h30 – 14h30 : DESCANSO

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A manhã chega ao fim e corremos para o refeitório para comer pratos quentes. Ao final de cada treino sinto uma satisfação profunda e um orgulho pessoal ligados ao esforço físico e à sensação diária de superar meus próprios limites. Também é uma grande alegria compartilhar momentos tão intensos com pessoas que eu não conhecia uma semana antes; isso cria uma cumplicidade rara e preciosa. Essa cumplicidade também se constrói com professores e alunos que não falam minha língua. A barreira do idioma se transforma em um jogo, pois encontramos outros meios de comunicação e tentamos ensinar palavras e expressões uns aos outros. Esse intervalo de três horas nos permite descansar, ler, conversar juntos. Nos dias em que estamos mais motivados, aproveitamos a pausa para revisar juntos. PS: tiramos cochilos com muita frequência…

14h30 – 17h30 : PERSEVERANÇA

Nesta tarde chovia intensamente. Apesar do frio e das roupas com dificuldade para secar, não consigo deixar de admirar a beleza da montanha envolta em sua névoa. Com esse clima, é impossível ter aulas ao ar livre, então treinamos dentro do templo. Organizamos o espaço com colchões para realizar fortalecimento físico, relaxamento e trabalhar algumas acrobacias. Entre cada pausa, aproveitamos para tomar chá juntos. Sinto que estou progredindo muito rapidamente. Temos a sorte de ter aulas quase particulares; o professor é atencioso e dedica tempo para nos corrigir. Gosto muito da forma como ele nos faz trabalhar em grupo, incentivando-nos a apoiar e impulsionar uns aos outros. A atmosfera é muito diferente das escolas francesas que conheci. Não existe a vontade de criar competição entre os alunos. Apesar das diferenças de nível, todos realizamos os mesmos exercícios, cada um no seu ritmo. Os salões do templo também são ocupados por crianças que têm aulas. Em cada pausa, elas vêm tomar chá conosco e brincar nos colchões de treino. Os vínculos se criam muito rapidamente, pois elas não são nada tímidas! Acredito que viver nossos dias dessa forma, totalmente imersos no kung fu, nos faz evoluir mais rápido e transforma nossa relação com essa arte marcial. Ela deixa de ser um hobby e passa a ser o eixo em torno do qual o dia se organiza, o que também modifica nossa relação com o corpo. A cada dia nos tornamos mais confiantes, mais resistentes e mais flexíveis, tanto mental quanto fisicamente.

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17h30 – 21h : ABERTURA

O treino chega ao fim. Temos meia hora antes do jantar para tomar banho e trocar de roupa. A refeição é um momento precioso, no qual conversamos sobre o dia que tivemos. Muitas vezes, alunos e professores chineses se sentam conosco e tentamos nos comunicar com as poucas palavras de chinês que conhecemos. É também uma oportunidade de conhecer melhor nosso professor.

As meninas do meu dormitório decidiram organizar aulas de idioma à noite, entre 18h30 e 19h30. Elas falam conosco em inglês e precisamos responder em chinês. É um momento repleto de risadas e mal-entendidos, mas é o momento do dia que eu mais gosto. Minhas colegas de quarto são extremamente cativantes; a maioria pratica kung fu em altíssimo nível e me impressiona pela gentileza, abertura e coragem. Mesmo em dias de chuva, quando muitos estudantes chineses descansam, elas treinam colocando colchões no dormitório. Sempre me faz rir vê-las treinando assim quando abro a porta ao voltar do templo.

O dia chega ao fim…

Pascaline